Era sábado
quando a garota abriu os olhos e enxergou a claridade fria daquela tarde de
maio. Havia dormido por três meses, pelo menos era o que sentia. Percebera então,
que sentia, aliás, a felicidade de uma joaninha que acabara de escalar a
roseira, antes gigante, e alcançara, entre espinhos e desequilíbrios, a flor
prometida e cheirosa, no cume da sua ambição. Completude e medo, como se olhasse
do Everest para o todo. Um ângulo sublime, da felicidade plena, do olhar a
refletir, nas emergentes lágrimas de orgulho, a paisagem que sempre sonhara em
vislumbrar. Ela continuava deitada em um jardim desconhecido, que lhe abrigou
as angústias da noite anterior, quando os sonhos chegaram em forma de amor sem
tessitura. Momentos entregues aos seus instintos mais puros, que a escuridão não
permitira distinguir, mas que jamais haveriam de ser esquecidos, por um dia
sequer, tatuados que foram aos seus sentidos. A gaivota a voar, e contrastar,
no límpido céu azul, à concomitância do barulho das ondas, conotava uma
proximidade maior do mar que o esperado pela garota. Permaneceu ali, esparramada
nas espinhosas rosetas, sofismada pelas joaninhas, constipa pelo vento, a
recitar silenciosa no ouvido dos próprios anseios, o quão bela é a vida, quando só, mas amparada, num azulado sábado de maio.