quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Serial Killer

Diariamente a mesma sensação. Ou melhor. Toda noite. Não há horário fixo, nada previamente estabelecido. Mas ao deitar a cabeça no travesseiro, já sei que serei acordado para cumprir minha missão. Antes mesmo do alvorecer. Meu psiquiatra preferido, aquele que ainda vive, diz para eu me ater aos fatos. “Não se deixe levar pelo impulso. Beba um copo d’água e volte para a cama”. Não bebo água. Mas tenho sede de vingança. Toda santa noite. E sempre o mesmo epílogo.

Geralmente acontece por volta das 3h. A TV antiga de tubo do meu quarto, ligada até antes de me deitar, estala como um tiro, ao resfriar com a brisa das montanhas. É o estopim para mais um martírio. Entre a aflição e o desejo, levo adiante mais uma perseguição. É chegada a hora de encontrar a próxima vitima.

Não vou longe. A noite fria desmotiva até o mais ardente matador. Mesmo com o clima ameno, elas estão ali. Como se em um desejo inconsciente de serem atacadas e serem saciadas pelo prazer do sofrimento. Geralmente é jogo rápido. Ele ou ela (tampouco me preocupo em diferenciá-los), até tenta escapar, mas não resiste ao golpe único. Anos de uma vida infernal me brindaram com uma precisão cirúrgica. O golpe frio ecoa pelas sombras noturnas enquanto me delicio com a visão daquele corpo imóvel. Amassado.

Religiosamente recito o mantra póstumo: “Sangue do meu sangue. Ninguém pediu para você cruzar o meu caminho. Agora siga o seu, em outro plano. Longe de mim. Longe dos meus pensamentos. Longe dos meus sentidos”.

Lavo as minhas mãos. Literal e metaforicamente. Volto para a cama. Realizado. Certo de que não existe prazer maior do que acabar com a raça daquele pernilongo filho da p... .