terça-feira, 5 de abril de 2011

E chegô o frio véio... né???


Quanto tempo, em anos, se passa falando do tempo? Não das horas. Nem da fila. Mas do mais relativo dos tempos de todos os tempos: o clima?

- Será que chove?

Se você é curitibano, essa frase será proferida a qualquer momento, mesmo no dia com o mais cintilante dos céus azuis de maio.

Se você não é curitibano, preste atenção, também poderá acontecer contigo.

Resolvi perder o meu (e o seu) precioso tempo, para ir além. Vamos analisar esse renomado e infalível recurso de ¨puxar¨ conversa.

Por sinal, quanto menor a intimidade com o coitado do interlocutor, mais sentido faz falar sobre o tempo.

Duvida?

Fila de banco:

- Nossa! Que calor, né?
- Nem me fale! E o ar condicionado que não funciona?
- Pois é, né?! Incrível que quando faz frio, parece que querem congelar a gente.
- Nem me fale! O calor dos últimos dias está insuportável!
- Pois e, né?! Parece que o aquecimento global já chegou aqui no bairro...
- Nem me fale!

15 minutos depois...

- Você acredita que meu cunhado perdeu tudo na enchente do verão passado?!
- Pois é, né?! E dizem que o inverno vai ser pior que o anterior...
- Nem me fale!

Importante frisar: quando se trata de tempo, não há tempo que dê conta de tanto assunto. Inútil.

Também existem os ¨poetas do tempo¨. Dia desses, acompanhei o seguinte diálogo, realizado por telefone – sinta a profunidade do papo:

- Boa tarde doutor, tudo bem?
- Como vai? Como está? Tudo bem? Muito frio aí em Guarapuava, já?
- Pois é, doutor! O frio tá chegandinho... Até já tirei minhas blusas do guarda roupa...
- Imagino! Aí faz frio pra burro!
- Imagine só! Vocês aí em Curitiba estão no céu... Ou no inferno, onde é mais quente (muitos risos... forçados)
- (risos) Ou o contrário! Tipo o Inferno da ¨Divina Comédia¨, de Dante Alighieri, onde o inferno é congelado...
- ...
- (risos nervosos)
- Doutro, sobre aquele contrato...

Mas de todos, sem dúvida, os avós são os maiores conhecedores dos mistérios incautos do clima!

- Viu vó, não disse que aquelas nuvens iriam ¨dar a volta¨?
- Mas antes, antes, antes de antes de ontem a lua cheia estava envolta numa aura branca. Certamente choverá por 3 semanas seguidas...
- Pois é, né! Olha ali, essas nuvens fininhas e avermelhadas. Certeza que chove amanhã...
- Mas hoje em dia o tempo anda tão diferente...

E os viventes ficam ali, parados, divagando, numa confortabilíssima posição, olhando para o céu, com a boca aberta e o torcicolo trovejando. Até que vem o juízo final:

- Bom, amanhã a gente descobre...
- Pois é, nem me fale!

Quem trabalha em jornal, sabe que nem com meteorologistas da paixão a conversa rende:

- Simepar, bom dia!
- Bom dia, meu nome é Noé, do Jornal Naufrágios Diários, tudo bem?
- Tudo bom?
- Tudo. Estamos fazendo matéria sobre as últimas enchentes. É possível associá-las ao aquecimento global?
- (Suspiro longo e profundo) Não, não é possível. As enchentes das últimas semanas estão associadas à grande massa de ar estacionária sobre sua região. Em função de uma combinação de fatores, como o deslocamento para o Oceano Atlântico das massas de ar vindas do Sul e a ausência de umidade de ar na região Centro-Oeste, essa massa de ar está propiciando uma precipitação acima da média registrada para a atual época do ano, nessa região.
- Mas isso tem a ver com o aquecimento global?
- (Ssssssuspiro profundo) Não.
- Está relacionado a que, então?
- Ao que acabei de explicar antes.
- Ah, perfeitamente. Poderia repetir, por favor, pois achei que tinha a ver com o aquecimento global?

Mas de todas as divagações, uma única coisa é certa, aliás, duas:

Quem fala do tempo, pode estar entediado, pode estar interessado, mas nunca estará errado...

- E não é que chegô o véio e bom frio?! Decerto amanhã ¨géia¨...

2 comentários:

Tatiana Lazzarotto disse...

O que eu acho mais fascinante em conversas sobre o tempo são as pessoas que sabem que vão chover quando o joelho dói.
Fala sério, pra que meteorologia?
Começou o frio em Guarapuava? Sem brincadeira, nunca fiquei tão feliz em não sentir frio em abril... E isso acontece pela primeira vez em... 25 anos! Uhu.

Tatiana Lazzarotto disse...

Um apelo: tire o verificador de palavras.

Um ultimato: senão não comento mais.