quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

A Arte da Guerra (Conjugal)*

A guerra, na verdade, como se sabe, não é vital, mas mortal em uma relação conjugal; por isso é preciso saber manejá-la. Há lideres natos, denominados pelo Estado como esposas, que possuem a força, a estratégia e o conhecimento necessários para vencer todos os combates. Aqui chamaremos esta hierarquia de "líder". 

E há os sobreviventes, que recebem a ortoga civil de marido, aqui denominado “general”. Este manual é destinado aos generais, para que consigam se estabelecer diante dos enfrentamentos rotineiros do dia a dia.

Sobre o princípio das ações.

Se houver que ser feito. Há que se fazer.

Mas se não houver, mas quiserem que seja feito... Também há que se fazer.

Se for fazer, não basta pensar em fazer. É preciso dizer que se está pensando em fazer.

Se disser que está pensando em fazer, faça. E se fizer, diga logo que está fazendo.
Pois o líder não precisa saber o que está sendo feito. Mas se souber que está sendo feito, então o líder recuará por meia hora.

Ao fazer, conte o que está a fazer. Não é importante ao líder o que esteja sendo executado, mas que  se esteja disposto a contar o que está a fazer.

Se fizer, apenas, sem contar como, então o líder sentir-se-á fortalecido. Se, porém, por outro lado, contar como, mas não o fizer, então o líder sentir-se-á traído.

Portanto, uma vez prometido, não apenas faça, mas conte que está trocando a borracha da porta da geladeira por outra mais resistente, que não resseca, encomendada de uma loja online do leste chinês. Mas é preciso esperar o momento correto, que será quando o líder demonstrar interesse em saber o que está sendo feito.

Sobre a medida na disposição dos meios.

Ao contar que pensou em como fazer o quiseram que fosse feito e desejado que fosse dito como seria feito, diga imediatamente, como contramedida preventiva, que já providenciou tudo o necessário para fazê-lo.

Se, no entanto, o líder cercá-lo com a pergunta „quanto custou?“, diga apenas que usará as próprias armas de pagamento. A medida, além de evitar um novo contragolpe, possibilitará ganho de território estratégico.

Ao iniciar a batalha prometida, conte que ela foi iniciada. Todavia, certifique-se de, ao contar que foi iniciada, também detalhar os próximos passos, como a cola de secagem ultra-rápida que será utilizada no intuito de evitar o esfriamento da geladeira e salvará 98% dos alimentos ali condicionados, gerando economia cinco vezes superior do que se a cola fosse aquela para scrapbook. Essa ação é conhecida na esfera militar como „embromation“ e tem a simples função de causar desinteresse e possibilitar ganhos adicionais de tempo.

Sobre a firmeza.

Ao dar, efetivamente, os próximos passos, certifique-se também, além de prestar contas ao líder, de garantir a própria hidratação com energéticos enlatados de malte e a satisfação da tropa, assistido todas as estratégias do seu time de artilharia pesada no Sportv.

Desta forma, se neste ínterim for apanhado, haverá motivação suficiente para continuar na mesma hora. Se, no entanto, não o for, estará revigorado para os próximos passos.

Ao contar que o assunto está quase resolvido, não informe quanto tempo ainda será investido. Diante da capacidade de reter informações que lhe convém, o líder poderá atacá-lo com novas perguntas, o que poderia gerar grandes perdas ao seu pelotão.

Por fim, reúna as últimas forças da sua tropa e anuncie que a missão de trocar a lâmpada da lavanderia foi cumprida com êxito. Lembre-se de não deixar nada para trás, nem mesmo vestígios de sapato sujo na cerâmica branca.

Mesmo diante da expectativa de paz, não recue. Mantenha-se em vigília, caso o líder encontre uma nova missão adicional – com elevada probabilidade de solicitação.

Diante dessa situação, lembre-se da estratégia inicial: Contar. Sempre.

Neste caso, diga que já havia pensado, por coincidência, em fazê-lo. Também lembre-se de iniciar imediatamente o combate de consertar o botão de enxágue e o cano de abastecimento da máquina de lavar, o que impedirá um contra-ataque indesejado.

Sobre a arte de atacar pelo fogo.

Se, no entanto, estiver com o plantel inferiorizado, informe ao seu líder que precisará se restabelecer.

Caso receba uma inesperada aprovação de dispensa temporária, jamais cogite a hipótese de usar o tempo livre para debates com aliados, fora da fronteira. Invista na própria recuperação e nos debates com o líder, ao longo de todo o período, sobre como será realizada a operação seguinte.

Não recue. Se recuar, diga que está pensando em recuar. E depois recue.

Sobre as “novas” classes de terreno.

Neste cenário, esteja preparado para um ataque virulento que deverá dizimar toda a obra construída ao longo do embate anterior.

Então, lembre-se: um grande general sempre conta o que fez, pensa em fazer e está fazendo. Esse general, então, terá demonstrado toda sua coragem.

Reúna forças e conte todas as suas contramedidas ao líder. Demonstre nobreza ao agradecer pela clemência.

E, por fim, inicie novamente, contando que está pensando em fazer tudo o que quiserem que seja feito.


*Singela paródia da obra de Sun Tzu (em terceira, e não segunda, pessoa), dedicada com muito amor à minha futura líder.