terça-feira, 31 de agosto de 2010

Vote em mim, ria de mim...

 ... eleja a mim, não, não vote nele!

Que a política brasileira é uma palhaçada, qualquer molusco sabe. Mas como aproveitar ao máximo esse "mar de democracia"?

Além do horário eleitoral gratuito, o TSE fez o favor de divulgar em seu site todas as informações impossíveis e inimagináveis do seu, do meu, do nosso candidato preferido (e até dos inaptos para tanto).

Do Pará ao Paraná, do Oiapoque ao Chuí, o negócio é se divertir.
Acompanhe algumas dicas:

1 – Primeiro Acesse:

2 – Depois, escolha o estado de sua preferência.
a)  Para nomes esdrúxulos, procure em São Paulo, Rio de Janeiro ou Nordeste (sem preconceito, é constatação).


b)  Para inacreditáveis declarações de bens, procure em Mato Grosso (do Norte e do Sul)
c)
  
Se você não quer ver declaração de bens, clique em “ctrl L”e digite “pastor” (qualquer estado).
d)
  
Se você quer tragédia (Inapto por Falecimento), clique em Acre.

3) Atenção. Abaixo selecionei alguns candidatos (a deputado estadual) de acordo com suas principais habilidades. As acepções são baseadas única e exclusivamente nas informações que dispomos dos mesmos (e dos candidatos também), do site do TSE. Trata-se de uma escolha completamente ao acaso (com exceção dos candidatos guarapuavanos, brindados pelo acaso de serem conhecidos por este blog).


A.      Candidato Matemático: http://divulgacand2010.tse.jus.br/divulgacand2010/jsp/abrirTelaDetalheCandidato.action?sqCand=30000000640&sgUe=AP


D.      A delegada mais transparente do Brasil (vide detalhadíssima declaração de bens): http://divulgacand2010.tse.jus.br/divulgacand2010/jsp/abrirTelaDetalheCandidato.action?sqCand=30000000293&sgUe=AP

H.
      O Incrível (compare os bens com de 2008 – que crise, que nada!): http://divulgacand2010.tse.jus.br/divulgacand2010/jsp/abrirTelaDetalheCandidato.action?sqCand=240000000032&sgUe=SC#

K.
      O investidor (vide aplicação ‘5 estrelas’):

L.
       O pára-quedista

M.
    O declarante estagnado (diferença de R$ 64,63 entre as declarações de 2008 e 2010)
N.     O bom funcionário (vide empréstimo ao irmão do ex-chefe)

O.
     O contrário de 1,99 (comprou tudo por R$ 0,01)

P.
      O chamador:

Q.
     ... Morreu (completando o nome do candidato):

Lembrando que esta lista não foi baseada sob qualquer ótica partidária, com uma exceção: O Partido de Tanto Rir.
Ok, é mais trágico que cômico.

Ao final, duas constatações: 
1 - não declarar os bens, à essa altura, é um tiro no pé; declarar requer muita coragem. 
2 - Segundo: nome chamativo é chamativo para qualquer tipo de situação (para o bem e para o mal).

sábado, 28 de agosto de 2010

Em busca do Belo Encantado

(ou "Mataram o narrador")


Era uma vez uma linda donzela, que vivia na favela do Atirado. Ela sonhava em encontrar seu Belo Encantado, mas não sabia muito bem para qual Bangu ele havia sido transferido. Até que um dia... Aaahhhhhhhh...

- Ei, narrador. Narrador acorda! Não faz isso comigo, narrador! Ah, não acredito! Quando finalmente raiou o tão esperado “até que um dia...” o narrador me bate as botas.

- Bope! Bope!! Todo mundo para o chão, eu disse para o chão, caravalho!

- Bope? Cara, foi só o narrador morrer pra você, seu escritor mixuruca, apelar para aumentar seu iBope – taí um belo nome para smartphone do Bope, não acha!?

- Cala a sua boca, sua paca! Eu disse todo mundo para o chão.

- Não fala assim comigo, seu, seu... seu caveira imundo! E pode me prender, pois já passei do chão faz tempo! Eu vivo no inferno!

- Zero Vinte e Quatro!

- Senhor, sim senhor!

- Prenda ela! E leve também esse corpo “que não me pertence”.

- É do narrador, seu policial estúpido!

- Narrador? Agora não tem mais narradorzinho nenhum aqui. Quem manda nessa pomba aqui sou eu!

- Grosso!

- Leva ela Zero Vinte Tantos!

- Senhor, Zero Vinte e Quatro, senhor!

- Isso, que seja. E para todos os efeitos, foi ela quem matou esse sujeito. Manda ela pra Bangu.

Então o... os olhos... cof... da Donzela voltaram a... a... brilhar.

- Narrador! Você não morreu?!

- Na verdade sim, doeu para caravalho. Mas esse escritorzinho mixuruca não estava encontrando um jeito de continuar a história sem mim!, disse o narrador, em claro ato de insubordinação.

- Que ótimo. Eu também não vivo sem você. Desde que eu nasci, você vive me dizendo o que fiz, faço ou farei!

É para isso que servem os narradores de contos de fadas.

- Fadas? Fadas, narrador? Você é um fanfarrão, seu mer... Zero Qualquer Um, pegue o saco.

Então, num súbito ato de bondade, o escritor coloca um portal de outra dimensão nesta história, para o qual Donzela e Narrador correm freneticamente.

- Ãh, narrador... Desculpa, mas... Cadê esse tal portal?

Pô, escritor! Tá de sacanagem? Ajuda aí, camarada. Até hoje, tudo o que eu disse aconteceu.


Então, um portal, do nada, caiu dos céus e abriu-se diante dos dois personagens bonzinhos da história.

- Narrador, sei não, isso soou um tanto irônico...

E foi, Donzela, mas eu só leio o script.

Correndo adoidados e sob o olhar catatônico dos Homens de Preto, Donzela e Narrador viram diante de si uma oportunidade boa para cachorro. Jogaram-se para dentro do portal e então o improvável aconteceu.

- Narrador, o que é isso? Que coisa esquisita é essa? Parece que eu estou surfando e...

Então a pequena Donzela se deu conta. Esforçando-se para compreender aquela situação muito além da própria imaginação, viu-se diante do improvável.

- Chega de embolação. Conta logo o que aconteceu, pombas!

Pombas? Que meigo!

- Pára, Narrador. Não tem graça.

Donzela percebeu que estava presa no Google.

- Que?!

Do Google. O portal de internet. Não foi isso que eu pedi? Eu, o Narrador, queria um Portal de outra dimensão... Tchanã!

- Narrador, narrador... Olha só o que sua insubordinação nos causou, narrador!

No início, tudo era esquisito. Visitaram o Orkut, pulando de perfil em perfil, machucando o rosto dos usuários. Depois foram parar no You Tube, copiaram e descolaram uma pipoquinha do Google Imagens e viajaram o Mundo pelo Google Earth. Então cansaram.

- Ai, narrador. Estou cansada. Meus pés estão me matando. Minha cabeça está doendo. Essa história não poderia ter sido mais tradicional?


Narrador e Donzela decidiram voltar. Clicaram em “sair” no Orkut, deslogaram-se do You Tube, abriram o Google Earth, digitaram Rio de Janeiro e pularam sobre a favela do Atirado.

- Senhor, eles voltaram, senhor!

- Por favor, seu policial de mer.... Cumpra seu trabalho e me leva logo pra prisão.

- Que palavreado indigno para uma donzela. Vamos, Zero Abaixo de Zero, leve-a para Bangu.

O Narrador foi poupado, pela sua idade avançada.

- Deixa esse velhinho gagá aí.

Contudo, para conseguir narrar o final da história, ele pegou uma carona com o Caveirão até a penitenciária de Bangu.

Donzela passou 15 anos presa por desacato à autoridade, tentativa de fuga ultradimensional e um homicídio.

- Homicídio? Perguntou o Narrador, insuborinando-se novamente. – Mas eu não morri.

Donzela encontrou seu Belo Encantado, que morreu de amores por ela – eis o real homicídio. Houve outros crimes, como uma música dele para ela, que fala algo sobre “mel, sua boca tem um céu, e com esse hálito não dá, mas eu queria te beijar”...

- Narrador estúpido, “sua boca tem um mel e melhor sabor não há, que loucura te beijar”.

Por fim, o Narrador agradeceu à Donzela por gravar esta música-chiclete em sua memória e, lamentando-se por isso, informou que Donzela e seu Belo Encantado viveram felizes para sempre.

FIM 

sábado, 21 de agosto de 2010

E se alguém te contasse...

... um história desta forma?*

Eu tinha uma amiga que era irmã de um guerrilheiro de Tito, que atuava na região na qual eu morava, na antiga Iugoslávia. Certo dia, ela avisou que eles passariam na minha aldeia para fazer uma revista na manhã seguinte. Pai e eu pegamos o que tínhamos de mais precioso e enterramos perto de uma manjedoura de vacas. Usamos uma caixa grande, resistente, anteriormente utilizada para o transporte dos nossos pertences quando viemos do Brasil, na época em que meu pai vendeu terreno e casa para voltar à Europa, mas acabou surpreendido pelo início da Guerra.

Foi nesta época (pré-guerra) que conheci meu marido, infelizmente ele morreu no campo de batalha. E resolvi costurar para fora, inclusive os enxovais das minhas amigas. Aliás, eu tinha uma amiga, que era irmã de um dos guerrilheiros. E ela nos avisou a tempo de o pai e eu pegarmos a nossa preciosidade e enterrá-la perto de uma manjedoura. Por dez meses deixamo-na enterrada, para tirarmo-na de lá apenas um dia antes de fugirmos para a Áustria. A preciosidade permaneceu intacta, com exceção da madeira que sofreu com a umidade. Mas, mesmo hoje, jamais a trocaria pelo melhor carro do mundo.

Ganhei-a quando tinha 12 anos, da minha mãe. Fiz um curso por três anos para aprender a usá-la. Quando voltamos para a Europa, eu tinha 15 anos. Meu pai quis vender nosso terreno e casa por um valor alto e depois retornar para comprar outro, mais barato. Mas fomos surpreendidos pela guerra. Então conheci meu marido e deixei claro a ele: só caso contigo, se me prometer que voltaremos ao Brasil. Mas foi ele quem não retornou da guerra. Comecei a costurar para fora com a mesma máquina de costura com que fiz meu enxoval.

Tinha dois filhos para criar e consegui um dinheirinho com os enxovais que fazia para amigas. Uma delas, por sinal, salvou minha vida. O irmão dela era guerrilheiro de Tito e ela sabia: no dia seguinte fariam uma varredura na aldeia. Com ajuda do meu pai, enterramos minha máquina de costura. Só a desenterrei dez meses depois e nunca mais a pintei, nem lixei. Não a trocaria nem pelo melhor carro do mundo. E olha que dirijo há quarenta anos! Tenho um Gol, há uma década. Antes, tive uma Brasília, por 19 anos e meio, que comprei depois de ter meu Fusca, por dois anos e dois meses.

Cuido muito bem das minhas coisas, tenho muito ciúme delas. Eu tinha 12 anos quando ganhei minha máquina de costura. Morávamos próximos de uma fábrica da Singer, em São Paulo, para onde nos mudamos quando eu tinha 5 anos. Quando completei 12, convenci minha mãe a comprar uma máquina Singer para mim e fiz um curso de três anos para bordar e costurar. Levei-a junto quanto fui para a Europa. Fiz o meu próprio enxoval com ajuda dela, mas meu marido morreu na guerra, deixando-me com dois filhos. Quando voltamos ao Brasil na década de 50, minha máquina de costura veio comigo. Estamos juntas há quase 75 anos. Hoje tenho netos, bisnetos e até tataranetos. São minha fortaleza. Mas nenhum deles encosta na minha máquina de costura. Tenho muito ciúme dela. Ganhei-a quanto tinha 12 anos. Não a troco pelo melhor carro do mundo, essa minha “velhinha”, minha “preciosidade”. Somos duas velhinhas, afinal, tenho 86 anos. E olha que eu tinha 12 anos quando ganhei minha máquina de costura Singer...

*Baseada em fatos reais (alguns dados foram alterados).

PS: há quem saiba contar bem uma história, mas mais difícil é existir quem queira entendê-la nos mínimos detalhes.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Por que ter Klaustrofobia

- Por favor, antes de começarmos, repita seu nome.

- Klaustro. Klaustro Fobia de Machado de Assis.

- Pois não, senhor Klaustro, o que o traz aqui?

- Bom doutor. É um tanto embaraçoso...

- Fique à vontade, ninguém lerá este post do mesmo...

- Pois bem. Sabe doutor, meu nome...

- O que tem seu nome, Klaustro?

- Eu... sei lá doutor, tenho medo dele.

- Você tem medo do seu nome?

- É... Não. Sei lá, doutor. Deixa pra lá, melhor eu ir...

- Deita aqui, rapaz. Fique tranquilo. O que, no seu nome, lhe causa medo?

- Fobia, doutor.

- OK, causa fobia. O que te causa fobia?

- O senhor não entende... Foi o Fobia!

- Calma, Klaustro. Você não é alemão, rapaz. Repete comigo: "a fobia", substantivo feminino...

- Não doutor. O Fobia, foi o Fobia.

- Hein?

- Eu sei que foi ele... mas ele morreu!

- Quem morreu?

- O Assis!

- Que Assis?
 

- O meu avô Assis.

- Sinto muito. Morreu de que?

- De morte matada do Fobia!

- Fobia é uma pessoa?

- Meu pai... Bom, eu acho... Minha mãe não sabia direito.

- Sua mãe não sabia se você era filho do seu pai?

- Não. Minha mãe não sabia que meu pai matou meu avô.

- Que?

- Mas eu sei, doutor. Eu vi.

- Viu o que?

- O machado.

- POR DEUS! Quem é Machado???

- Pô, doutor... Como assim "quem é machado"? Machado é aquele negócio que o pai usou pra picar o vô...

- Ah...

- Vou-me embora, sou o mais lúcido de nós dois aqui. "Quem é Machado", só o que me faltava... Quero meu dinheiro de volta, viu? Quem é machado...