segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Você percebe que está ficando velho quando...

...chama de “antigamente” o que ocorreu há menos de duas décadas e ainda suspira o bordão “puxa, parece que foi ontem”. Ora, cara pálida, há 20 anos realmente “foi ontem”. Para quem tem 60 anos.

Contudo, o mundo mudou, as coisas (e as crianças) evoluem mais depressa, e, de repente, seu cotidiano prega dezenas de armadilhas que acabam com sua auto-estima.

E para quem é levado, rotineiramente, a repetir a frase “acho que estou ficando velho”, um alento: “sim, cara enrugada, você está ficando velho!” Mas já inventaram um Renew para cada uma das suas idades: escolha entre 25, 35, 50, 95, 120... (não é merchan, juro).

Se há 15 anos admirávamos a Polaroid com a foto dos nossos pais nos bailes supimpas dos anos 70, eis que há alguns eternos 5 anos para cá, Polaroid ficou 100 anos mais velha e sua prima rica, a máquina com filme, já recebeu seu cartão de aposentadoria do INSS.

Ok, tenho 25 anos e como me atrevo a escrever sobre “ficar velho”?! Bom, assim como você, vivi os últimos 5 anos revolucionários ultra-velhos e concluí: se o Menino Maluquinho já tem 30 anos e a Mônica, 47, eu também chegarei lá.

No intuito de exemplificar melhor essa parada meio tosca, relacionei alguns exemplos que talvez já tenham “machucado” sua “idade interior”.

Você percebe que está ficando velho...:

1 – Quando uma criança de até 10 anos já te chamar de “tio”ou “tia”, sem ser filho(a) de algum(a) irmão (ã) seu/sua;

2 – Quando outra criança de 6 anos te perguntar: “tio, o que é esse negócio aqui no celular?”. Depois de alguns segundos de incredulidade, você responde: “é a antena externa, querida” (assustador eu nunca ter percebido que os celulares não possuem mais anteninha!)

3 – Quando perguntam: “que horas são no seu celular?”

4 – Quando responde o horário e a criança, agora de 7 anos, estranha: “mas tio, por que meu celular está ‘adiantado’ em duas horas”. Após mais alguns instantes de incredulidade, percebe que, após adiantar manualmente o horário de verão, o esperto aparelho adiantou mais uma, “por conta”. Sim, via “Bluetooth” ou “wifi” ou via “BROACA - blue-ray-o'-auto-clock-ajuster”.

5 - Quando segura, pela primeira vez, o console mais estranho do videogame ainda mais esquisito jamais visto (nem botão tem!) e, antes que se pergunte, de novo, quem roubou os cabos, ele começa a vibrar, girar, pular, gritar... O inventor do Wii merece um Nobel, fato.

6 - Quando você percebe que, finalmente, desde a sua invenção, olhar para o rádio realmente faz alguma diferença (ou você nunca percebeu que quando quer ouvi-lo melhor, especialmente no carro, coloca o ouvido em direção à frente do aparelho, ao invés de procurar os alto-falantes...). Pois agora o rádio do seu carro já “diz”, nos modernos visores, o nome da música, dos cantores, do programa que está no ar, os pontos no IBOPE, pontos de radar... Já posso assistir o rádio, quem diria!?

7 – Quando chega ao Paraguai para comprar um mega Pen-Drive de 16 GB e o parágua, na maior cara de pau, informa: “djá tenemo de 128 Dgíga. Baratinho, original, tranquilo - não queimado”. Não! Cento e vinte e oito gigabytes de memória num trocinho de 3 centímetros quadrados?! Alguém me explica pra que eu comprei um HD externo no ano passado de 300 GB?!

8 – Quando uma criança, sempre elas, pergunta: “tio, onde é o botão do teu carro para poder tirar os pés?”. Alguns momentos de incompreensão e então a devassidão da conclusão: “sabe, o meu carro não tem piloto automático...”. “Por que não? Do outro tio tem...”. “É, o outro tio acabou de comprar o carro dele...”. “Quando você vai trocar o seu?!”. “...”.

9 – Quando você começa a fazer a lista do que lhe faz concluir que possivelmente está percebendo que talvez esteja realmente ficando velho.

10 – Quando alguém comentar, aqui embaixo: “mas Klaus, sério que você só percebeu tudo isso agora?!”

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Você percebe que está trabalhando demais quando...

... vários episódios normalmente esquisitos ao seu cotidiano passam a se tornar estranhamente comuns. Comer cup noodles misturado com atum (ué? carboidrato com pura proteína) no jantar, tirar mais uma sonequinha depois de desligar o terceiro soneca do segundo despertador ou chegar ao trabalho, achar que esqueceu o crachá e descobrir ao meio-dia que estava com ele pendurado no pescoço, sob o pijama (que não deu tempo de tirar antes de ir trabalhar).

Ou então, de forma mais didática.

Você percebe que está trabalhando demais...

1 – Quando chega do trabalho (já são 19hs), senta no sofá (já são 19h15) e decreta, com auto-piedade, às 20h: vou tirar o resto da segunda-feira de folga.

2 – Quando chega em casa, decide tirar o resto da segunda-feira de folga e aproveita para finalmente... dormir.

3 – Quando chega em casa, tira o resto da segunda-feira para dormir, mas acorda depois de meia hora e constata, eufórico e mentindo para o próprio cérebro: “Puxa vida, pareço novinho em folha! Vou aproveitar para adiantar o trabalho”.

4 – Quando chega do trabalho, diz que vai tirar a segunda para dormir, acorda, começa a trabalhar, mas após dois segundos de contato com o notebook sua cabeça volta a latir (sim, latir).

5 – Quando chega em casa, jura que vai descansar, não pára mais que meia hora, volta ao batente, trabalha por três horas a fio, termina o relatório grogemente satisfeito, às 23hs, e, com aquela sensação maravilhosa de dever cumprido ainda esbanja vitalidade: “Muito bem, Mister Hora-Extra! Agora você merece descansar, ler um livro, assistir o CQC... Peraí, tenho algo melhor! Zzzzzzzzzzzzzz”.

Contudo, porém, mas, no entanto, pero no mucho isso tudo é absolutamente compreensível.

Ao contrário do que se segue (uma história horripilantemente real).

O ser latente (a mente já não pensa, pressupõe) decreta que vai tirar a segunda-feira à noite de folga (achou que era exagero?). Descansar, tirar uma soneca? Não. Ele quer “aproveitar para organizar as coisas”, pois, afinal, para cada segundo de organização se ganha uma hora de... “Uhm. Pesquisa essa frase no Google pra mim, por favor, estou “meio com pressa”. Obrigado.”

O ser latejante (o pulso, pois, não pulsa mais, late) decide radicalizar: tudo o que for papel inútil, ao lixo. OK, difícil é classificar algum papel como inútil (ou você acha que folha dá em árvore?!). Portanto, tudo que se diz útil será magistralmente classificado de acordo com um assunto e colocado em diferentes pastas, com dezenas de divisórias, nas tais pastas-sanfona. Magistral, de fato.

Notas fiscais aqui, faturas ali... “Hum... Notas de garantia vão com as notas fiscais ou em nova divisória? Melhor abrir uma nova pasta”. Em meia hora, uma monstruosidade de papéis é solenemente distribuída à sorte e cuidadosamente embaralhada, desta vez de modo mais “organizado”. “Bom, foi o que aprendi com o 1º Senso, na empresa. Quando ensinarem o 2º ‘S’, talvez eu melhore...”, defende-se o ser pedante.

Três meses depois...

Cabelos recém arrancados caem das mãos nervosas e deixam um rastro de desespero atrás do Mister Organizado. “Meu, não acredito, aonde foi parar a folha com metade daquela entrevista. E nem fiz cópia de segurança. Ah, claro, a pasta “material de entrevistas””. Folha por folha, devagar e pacientemente, ele procura. “Nada. Bom, certamente está na pasta “material jornalístico””. Um por um, os papéis reduzem a esperança. “Bom, devo ter deixado na mesa, já que ainda precisaria usar”. Claro. Raciocínio magistral (lembra? A mente já não pensa, pressupõe).

Searching em “Bolinho I” de papéis acumulados dos últimos três meses sobre a mesa. Na testa, aparece um retângulo com letreiro piscante. “Wait! Pesquisando programas e arquivos...”. Nada. “Bolinho II” de papéis acumulados... Nothing. “Bolinho III”? Nadica. “Não pode ser! Eu me organizei! Eu nunca fiz isso antes e quando faço... Odeio o japa dos 5 S’s”.

Pasta de contas. Pasta de documentos. Pasta de... “Que pasta é essa aqui?”

Então, o ser latente descobre que ele mesmo, em algum momento de sua magistral organização cotidiana e mental, abriu uma nova pasta, com uma estranha divisória, contendo simpáticos papéis que deveriam, pois, estar na pasta “material de entrevistas”.


É isso. Você percebe que está trabalhando demais quando precisa descobrir algo que você mesmo, em algum momento, já inventou.