Não se trata de jogar praga. Nem brincar com a
estatística a favor do Brasil ou contra a Alemanha. Justo agora, a poucas horas do embate decisivo entre ambos. Mas alguns dados sobre a história das Copas do
Mundo são curiosos. Dois fatores garantiram 68,8% dos campeões das últimas 19
edições: ser o anfitrião de um Mundial ou vencer os donos da casa durante a campanha, com representatividade de 37 e 31,5% das vezes, respectivamente. Ou seja, em 7 das
19 Copas, o país-sede levou o título, enquanto que em outras 6 oportunidades, o
campeão venceu o anfitrião.
Ocorre que uma espécie de “maldição” paira sobre a
Alemanha quando se aproxima das finais. Com sete decisões mundiais e três títulos no
currículo, os alemães perderam três das outras quatro finais em torneios nos
quais eliminaram o país-sede. Em 1966, única oportunidade na qual poderiam levar
o caneco vencendo os anfitriões, perderam para a Inglaterra com um “no goal” na
prorrogação. Em 1982 venceram os espanhóis, donos da casa, na segunda fase (e
perderam a final para a Itália), em 1986 eliminaram o México (e foram
derrotados pela Argentina na decisão – mesmo destino da Itália que eliminou os
mexicanos em 1970 e perdeu para o Brasil em Guadalajara). Em 2002, a Alemanha
passou pela Coréia do Sul nas semifinais e... penta para o Brasil! Sempre
quando foi campeã, 1954, 1974 e 1990, o chucrute passou ao largo dos países-sede.
Em caso contrário, azedava…
OK, mas estatística não entra em campo.
- Espera lá! Vocês estão esquecendo de um dado importante. Desde 1930, no Uruguai, as estatísticas são mencionadas em 98,76% das transmissões de jogos! – argumentaria, certamente, o craque Paulo Vinícius Coelho, da ESPN, se conhecesse esse blog e existisse tal levantamento.
Tudo é uma questão de ponto de vista. Se juntarmos
todas as estatísticas, o fato de vencer o anfitrião ou o de ser país-sede garantiu
vaga na final em 89,5% das Copas disputadas até hoje. Mas do total, em 21% das
oportunidades, ou 4 em 19, quem venceu o anfitrião terminou com o
vice-campeonato. Além da Alemanha, apenas Itália (em 1970, conforme posto
antes) e a Argentina experimentaram a mesma sensação: esta, justamente em 1990,
quando eliminou os italianos, em Nápoles, nas semifinais, e foi superada pela
Alemanha, em Roma. Mas, alto lá, não seriam, então, 5 em 19? A Copa de 2002 contou com duas sedes, ferrando com
todas as estatísticas. Mais sobre isso, à frente.
Já o Brasil conquistou três dos seus cinco títulos
mundiais ao superar o país-sede pelo caminho. Em 1958, bateu a Suécia na final.
Em 1962 eliminou os chilenos nas semi. E em 1994 passou pelos EUA, nas oitavas.
Em 2002, venceu a Turquia nas semifinais – os turcos que haviam despachado o Japão
nas oitavas. Nos outros dois títulos, em 1970 e em 2002, fomos “favorecidos”
pelo fato de os vices terem se “auto-amaldiçoado” ao vencerem os respectivos
anfitriões.
Por sinal, o Brasil já viveu os dois lados da moeda.
Ao perder a final de 1950 em casa, fato que ocorreu apenas duas vezes na
história, e foi se repetir curiosamente em 1958, quando a Seleção Canarinho
superou os suecos.
Conta a favor da Alemanha, nesta terça-feira histórica,
dia 8 de julho de 2014, apenas uma outra (frágil) estatística: todos os tretracampeões mundiais demoraram 24 anos,
desde o tricampeonato, para chegar ao seleto nível. O Brasil entre 1970 e 1994
e a Itália entre 1982 e 2006. O tri alemão foi conquistado há exatos 24 anos.
Contra a Argentina. Mas, à época, os hermanos eram os “amaldiçoados” da vez.
Em 2014, a grande chance da Seleção Brasileira, diante dos contundentes desfalques, é a de poder vencer e superar o anfitrião, ou seja, a si mesma. Assim como fizeram Uruguai, em 30,
Itália, em 34, Inglaterra, em 66, Alemanha, em 74, Argentina, em 78, e França
em 98. Pois, caso contrário, ainda corremos o risco de a Argentina superar a Alemanha. Até porque, nunca
antes na história das Copas a Europa levou três títulos seguidos. Um alento
para os sul-americanos. Aos que falam português, espera-se.
Por Neymar, pelo povo brasileiro, pelo muito orgulho e pelas Santas
Estatísticas: Vai Brasil!
Confira
abaixo o histórico dos anfitriões e o caminho dos campeões:
1930: País-sede: Uruguai. Campeão: Uruguai.
1934: País-sede: Itália. Campeã: Itália.
1938: País-sede: França. Campeã: Itália,
venceu a França nas quartas-de-final (3x1).
1950: País-sede: pula essa.
1954: País-sede: Suíça. Campeã: Alemanha. Suíça
eliminada pela Áustria nas quartas, posteriormente vencida pela Alemanha
Ocidental, nas semifinais.
1958: País-sede: Suécia. Campeão:
Brasil, batendo a Suécia, na final, por 5x2.
1962: País-sede: Chile. Campeão: Brasil,
vencendo o Chile, por 4x2, nas semifinais.
1966: País-sede: Inglaterra. Campeã:
Inglaterra.
1970: País-sede: México. Campeão: Brasil.
A Itália venceu o México por 4x1 nas quartas e perdeu para o Brasil pelo mesmo
placar na final.
1974: País-sede: Alemanha. Campeã: Alemanha.
1978: País-sede: Argentina. Campeã:
Corrupção.
1982: País-sede: Espanha. Campeã:
Itália. A Alemanha venceu a Espanha na 2a fase, mas perdeu a final
para a Itália.
1986: País-sede: México. Campeã:
Argentina. Adivinha? A Alemanha venceu o México nas quartas (nos pênaltis) e
perdeu para a Argentina na final.
1990: País-sede: Itália. Campeã:
Alemanha. Maldição devolvida: Argentina eliminou a anfitriã e perdeu para a
Alemanha na final.
1994: País-sede: EUA. Campeão: Brasil,
que ganhou dos EUA por 1x0 em pleno Independence Day (4 de julho, grito do
Ipiranga, por: Bebeto).
1998: País-sede: França. Campeã: Nike.
2002: Países sede: Japão e Coréia do
Sul. Campeão: Penta Brasil! A Turquia eliminou o Japão e foi eliminada pelo
Brasil. A Alemanha, veja só: eliminou a Coréia do Sul e perdeu a final.
2006: País sede: Alemanha. Campeão:
Materazzi. A Itália eliminou a Alemanha nas semifinais, com dois gols nos
últimos dois minutos. Das tut weh!!!
2010: País-sede: África do Sul. Campeã: Espanha. A
África do Sul é a primeira seleção de país-sede a não avançar para a 2a
fase de Copa, sendo eliminada juntamente com a França na fase de grupos.
RESUMO:
Em 7 de 19 Copas, o campeão venceu o anfitrião e foi
campeão: 37%
Em 6 de 19 Copas, o país-sede foi campeão: 31,5%
Em 4 de 19 Copas, o vice-campeão venceu o país-sede: 21% (Alemanha 3 vezes)
Em 1 de 19 Copas, o campeão venceu a seleção que havia eliminado o país-sede em fase anterior: 5,25% (Alemanha, em 1954; o Brasil superou a Turquia que havia
vencido o Japão, mas para fins estatísticos contabilizamos apenas um país-sede)
Em 1 de 19, o país-sede não teve contato com os
finalistas: 5,25% (África do Sul).
Em 68,3% das Copas, o campeão ou era o país-sede ou
venceu o anfitrião.
Em 98,5% das Copas, o finalista era o país-sede ou a seleção
que venceu/eliminou o anfitrião.
Fontes estatísticas: Wikipédia. :)
Texto: Klaus Pettinger