quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Você percebe que está trabalhando demais quando...

... vários episódios normalmente esquisitos ao seu cotidiano passam a se tornar estranhamente comuns. Comer cup noodles misturado com atum (ué? carboidrato com pura proteína) no jantar, tirar mais uma sonequinha depois de desligar o terceiro soneca do segundo despertador ou chegar ao trabalho, achar que esqueceu o crachá e descobrir ao meio-dia que estava com ele pendurado no pescoço, sob o pijama (que não deu tempo de tirar antes de ir trabalhar).

Ou então, de forma mais didática.

Você percebe que está trabalhando demais...

1 – Quando chega do trabalho (já são 19hs), senta no sofá (já são 19h15) e decreta, com auto-piedade, às 20h: vou tirar o resto da segunda-feira de folga.

2 – Quando chega em casa, decide tirar o resto da segunda-feira de folga e aproveita para finalmente... dormir.

3 – Quando chega em casa, tira o resto da segunda-feira para dormir, mas acorda depois de meia hora e constata, eufórico e mentindo para o próprio cérebro: “Puxa vida, pareço novinho em folha! Vou aproveitar para adiantar o trabalho”.

4 – Quando chega do trabalho, diz que vai tirar a segunda para dormir, acorda, começa a trabalhar, mas após dois segundos de contato com o notebook sua cabeça volta a latir (sim, latir).

5 – Quando chega em casa, jura que vai descansar, não pára mais que meia hora, volta ao batente, trabalha por três horas a fio, termina o relatório grogemente satisfeito, às 23hs, e, com aquela sensação maravilhosa de dever cumprido ainda esbanja vitalidade: “Muito bem, Mister Hora-Extra! Agora você merece descansar, ler um livro, assistir o CQC... Peraí, tenho algo melhor! Zzzzzzzzzzzzzz”.

Contudo, porém, mas, no entanto, pero no mucho isso tudo é absolutamente compreensível.

Ao contrário do que se segue (uma história horripilantemente real).

O ser latente (a mente já não pensa, pressupõe) decreta que vai tirar a segunda-feira à noite de folga (achou que era exagero?). Descansar, tirar uma soneca? Não. Ele quer “aproveitar para organizar as coisas”, pois, afinal, para cada segundo de organização se ganha uma hora de... “Uhm. Pesquisa essa frase no Google pra mim, por favor, estou “meio com pressa”. Obrigado.”

O ser latejante (o pulso, pois, não pulsa mais, late) decide radicalizar: tudo o que for papel inútil, ao lixo. OK, difícil é classificar algum papel como inútil (ou você acha que folha dá em árvore?!). Portanto, tudo que se diz útil será magistralmente classificado de acordo com um assunto e colocado em diferentes pastas, com dezenas de divisórias, nas tais pastas-sanfona. Magistral, de fato.

Notas fiscais aqui, faturas ali... “Hum... Notas de garantia vão com as notas fiscais ou em nova divisória? Melhor abrir uma nova pasta”. Em meia hora, uma monstruosidade de papéis é solenemente distribuída à sorte e cuidadosamente embaralhada, desta vez de modo mais “organizado”. “Bom, foi o que aprendi com o 1º Senso, na empresa. Quando ensinarem o 2º ‘S’, talvez eu melhore...”, defende-se o ser pedante.

Três meses depois...

Cabelos recém arrancados caem das mãos nervosas e deixam um rastro de desespero atrás do Mister Organizado. “Meu, não acredito, aonde foi parar a folha com metade daquela entrevista. E nem fiz cópia de segurança. Ah, claro, a pasta “material de entrevistas””. Folha por folha, devagar e pacientemente, ele procura. “Nada. Bom, certamente está na pasta “material jornalístico””. Um por um, os papéis reduzem a esperança. “Bom, devo ter deixado na mesa, já que ainda precisaria usar”. Claro. Raciocínio magistral (lembra? A mente já não pensa, pressupõe).

Searching em “Bolinho I” de papéis acumulados dos últimos três meses sobre a mesa. Na testa, aparece um retângulo com letreiro piscante. “Wait! Pesquisando programas e arquivos...”. Nada. “Bolinho II” de papéis acumulados... Nothing. “Bolinho III”? Nadica. “Não pode ser! Eu me organizei! Eu nunca fiz isso antes e quando faço... Odeio o japa dos 5 S’s”.

Pasta de contas. Pasta de documentos. Pasta de... “Que pasta é essa aqui?”

Então, o ser latente descobre que ele mesmo, em algum momento de sua magistral organização cotidiana e mental, abriu uma nova pasta, com uma estranha divisória, contendo simpáticos papéis que deveriam, pois, estar na pasta “material de entrevistas”.


É isso. Você percebe que está trabalhando demais quando precisa descobrir algo que você mesmo, em algum momento, já inventou.

2 comentários:

Tatiana Lazzarotto disse...

Nem vem com essa de trabalhar demais. Todos sabemos que esse seu emprego é mais um cabide de empregos na fábrica de porquinhos. Você vive no msn!

Klaus Pettinger disse...

Hahahaha! Boa Tati! E aquela do português? ;p