terça-feira, 26 de abril de 2011

Causando ¨klaustrofobia¨

Na sala de eventos do mais luxuoso hotel de Curitiba, já se passavam cerca de sete minutos do total de 15 previstos para a apresentação institucional.

Ainda nervoso, diante de pouco mais de 200 pessoas que praticamente lotavam o recinto, dentre os quais  suinocultores e profissionais respeitados da área, apontei para a projeção do slide e mandei ver:

¨E este é o nosso equipamento de alta tecnologia para gestação coletiva de matrizes, que por sinal estamos expondo neste evento. Para quem ainda não viu... Sugiro procurar um oftalmologista, pois está bastante visível, exposto no saguão de entrada¨.

Pequeno silêncio.

E de repente o público riu. E riu bastante, até (para quem tinha acabado de ser chamado de ¨cegueta¨...).

Ufa! Era minha primeira palestra institucional, a primeira vez que falava por 15 minutos sozinho num palco, a primeira vez que fiz piada, por conta própria, para mais de 5 pessoas.

Após a apresentação, recebi diversos comentários, a maioria positiva. Por exemplo:

- Bela palestra, meu jovem. Parabéns. Eu realmente não havia visto a máquina, e olha que uso óculos...

Ou:

- Não sabia que você era piadista...

Ou:

- Ei, para um rapaz de 17 anos, sua palestra foi bem despojada...

Agradeci a todos os comentários, inclusive este último. As pessoas ainda ficam boquiabertas quando digo que sou 10 anos mais velho do que qualquer adolescente.

Fato é que ¨klaustrofobiar¨ (pronto, adotei o termo) o pessoal foi a única forma encontrada para me desvencilhar do maldito nervosismo e da timidez crônica. ¨Tímido? Você? Ah, para com isso, Klaus¨.

Sim, sou sim. Digamos, um tímido às vezes cara de pau, em constante busca pela auto-cura, no intuito de inflar o próprio ego (aliás, todo tímido é um ser absolutamente prepotente – se não fosse, não pensaria que ¨ah não, todo mundo está me olhando, ai que vergonha, blá-bla-blá...¨. Ninguém está te olhando, cara pálida, insossa e sem graça, exatamente porque você não dá nenhum motivo para tanto, escondendo-se atrás dos próprios ombros... – pronto, fim da ¨sessão auto-ajuda-cavalar-psicanalítica-do-dia¨).

A melhor forma que encontrei para dissipar a minha timidez é fazendo gracinhas. Desde sempre.

Porém, nem tudo foram flores na dita apresentação. Aliás, ela começou bem... mal.

Quando subi ao palco, peguei o microfone (há décadas não ouvia minha voz amplificada, que horror!), e soltei a seguinte pérola:

- ¿Hola, que tal? ¡Buenos días!¨ - com esses sinais invertidos e tudo.

Fiz cara de espanto. Gesticulei com a ¨casinha da tradução¨, ao fundo da sala, como se algo estivesse errado. Voltei a falar no microfone:

¨Olá, bom dia! Tudo bem?¨.

Fiz cara de satisfeito. Dei sinal de positivo à bendita ¨casinha¨ (não havia ninguém lá dentro!).

¨Agora sim¨, disse.

Era para ser uma piada. Ninguém riu...

Alguns até se levantaram e foram embora (¨Xi, em espanhol de novo?!¨, espero que tenham pensado. ¨Putz, depois dessa vou almoçar!¨, foi o que devem ter pensado).

Fato é que queria quebrar o gelo, com uma piada. Pensei em falar algo associando almoço com Bem Estar Animal (tema do Fórum), mas fiquei com medo de ofender alguém...

Como a palestra anterior havia sido em espanhol, fiz a piadinha ¨do-microfone-que-ainda-estava-falando-em-espanhol¨. Horrível! Só mesmo uma mente muito nervosa para achar que daria certo.

Por sorte, o pessoal só lembrou da piadinha que funcionou.

De tudo isso, fica a lição (pode até encarar como dica-auto-ajuda-aos-tímidos-do-dia): quem se expõe, começa a formar a própria imagem diante do público naquele exato momento. Ninguém sabe quem você é, muito menos conhece seus ¨defeitos¨, inclusive a timidez. Arriscar é a única maneira capaz de conquistar o interlocutor de primeira. E poucas coisas são mais saborosas do que o reconhecimento pelo esforço ou por uma invenção própria – ainda mais em público.

Mas fique ciente que, a partir daí, sim, todos estarão de olho em você (ainda mais depois de chamados de míopes).

No meu caso, a primeira vez certamente foi inesquecível – seja pela primeira palestra ou pelas primeiras piadas fracassadas. Mas entre me omitir ou klaustrofobiar o próximo, a segunda opção ganha.

A olhos vistos.              


Um comentário:

Eu sou doc disse...

Ah! Parabéns! A primeira vez a gente nunca esquece! Grande abraço e a ideia das piadinhas foi muito boa!