Foto: Klaus Pettinger |
Uma pintura. A imagem naturalmente celeste
tingida por tons enrubescidos pela conjectura do anoitecer. Raios solares sob
prismas únicos, tanto mais diversificados em cores quanto menor a incidência de
luminosidade. Espetáculos diários e despercebidos, relegados a fundos de tela, cujo
primeiro plano não passa de uma janela fechada em cortinas cotidianas, um pára-brisa
diante de olhos concentrado em problemas, um smartphone bloqueador de natureza, uma câmera fotográfica a colocar
o espetáculo em foco. Sim, a foto contempla. Só que não. Uma máquina a capturar o tal momento já
chegou a representar a boa vontade humana em parar dez segundos diante do
fenômeno. Não para apreciá-lo. Mas para compartilhá-lo. Não por ser belo. Mas
por gerar admiração e comoção social. A natureza continua desfocada.
Um pôr do sol na velocidade da luz é tempo
demais. Questão de meia hora, entre prospectar a cabeceira da pista, embicar os
raios solares paralelamente ao chão e pousar no horizonte infinito, deixando para
trás o rastro de frenagem na escuridão completa. Mas, lembre-se, a velocidade da luz já é
tempo demais. Tudo bem, dez segundos são suficientes para
diluir nossa culpa, para mirar, focalizar e clicar o botão que ativa o jogo de
espelhos artificiais em uma tela de vidro sensível (irônico!) a toques. A foto
é linda, a imagem é impressionante. O sentimento que incita? Admiração e vontade de viver aquele
momento. Ironia humana. “Fi-lo porque não qui-lo”, diria o poeta, contudo “far-lo-ia”
por não ter de verdadeiramente fazê-lo.
E se... ?
Cinco minutos diante de uma cachoeira e a queda d’água infinita que jamais se repete. Nas imagens capturadas, um véu pateticamente idêntico em todas as poses. A resolução da imagem, com a assimetria sutil e real apenas a união dos sentidos pode acompanhar: em profundidade visual, no jogo de luz e cores, no barulho de estática de rádio, no cheiro de terra molhada, no gosto de cerveja e na coceira de mosquito.
Cinco minutos diante de uma cachoeira e a queda d’água infinita que jamais se repete. Nas imagens capturadas, um véu pateticamente idêntico em todas as poses. A resolução da imagem, com a assimetria sutil e real apenas a união dos sentidos pode acompanhar: em profundidade visual, no jogo de luz e cores, no barulho de estática de rádio, no cheiro de terra molhada, no gosto de cerveja e na coceira de mosquito.
A quantidade de cores de um pôr do sol é
incontável (exceto por Chuck Norris, que troca os toners do sol a cada 15 dias,
como se sabe). O pantone celeste, porém, é capturável em foto. Agora, segue o desafios
aos colegas da Getty Image e concorrentes fotografar: a profundidade do
conjunto de nuvens sobrepostas por relevos e sobrepondo o sol; a textura do céu
em permanente ultraje; a curvatura do horizonte fortalecida pelo dégradé de
luzes; as cores rosadas das nuvens refletidas na lateral oposta do carro a
passar pela imagem; as cores rosadas das nuvens refletidas na asa direita do besourão
a cruzar a imagem; o pernilongo fdp que entrou pela janela em busca de jantar, enquanto
o fotógrafo apreciava tudo isso. No way!
Existe uma programação diária de apresentações
únicas, mágicas e improvisadas a ser apreciada de camarote. E com o acessório
da moda: a imagem em 3D. Sem óculos ridículos, aliás. Porque nascemos com a
melhor lente já produzida. Que está apenas cansada demais. Ou míope. Ou
desfocada.