quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Textura artísitica


Foto: Klaus Pettinger

Uma pintura. A imagem naturalmente celeste tingida por tons enrubescidos pela conjectura do anoitecer. Raios solares sob prismas únicos, tanto mais diversificados em cores quanto menor a incidência de luminosidade. Espetáculos diários e despercebidos, relegados a fundos de tela, cujo primeiro plano não passa de uma janela fechada em cortinas cotidianas, um pára-brisa diante de olhos concentrado em problemas, um smartphone bloqueador de natureza, uma câmera fotográfica a colocar o espetáculo em foco. Sim, a foto contempla. Só que não. Uma máquina a capturar o tal momento já chegou a representar a boa vontade humana em parar dez segundos diante do fenômeno. Não para apreciá-lo. Mas para compartilhá-lo. Não por ser belo. Mas por gerar admiração e comoção social. A natureza continua desfocada.

Um pôr do sol na velocidade da luz é tempo demais. Questão de meia hora, entre prospectar a cabeceira da pista, embicar os raios solares paralelamente ao chão e pousar no horizonte infinito, deixando para trás o rastro de frenagem na escuridão completa. Mas, lembre-se, a velocidade da luz já é tempo demais. Tudo bem, dez segundos são suficientes para diluir nossa culpa, para mirar, focalizar e clicar o botão que ativa o jogo de espelhos artificiais em uma tela de vidro sensível (irônico!) a toques. A foto é linda, a imagem é impressionante. O sentimento que incita? Admiração e vontade de viver aquele momento. Ironia humana. “Fi-lo porque não qui-lo”, diria o poeta, contudo “far-lo-ia” por não ter de verdadeiramente fazê-lo.

E se... ? 

Cinco minutos diante de uma cachoeira e a queda d’água infinita que jamais se repete. Nas imagens capturadas, um véu pateticamente idêntico em todas as poses. A resolução da imagem, com a assimetria sutil e real apenas a união dos sentidos pode acompanhar: em profundidade visual, no jogo de luz e cores, no barulho de estática de rádio, no cheiro de terra molhada, no gosto de cerveja e na coceira de mosquito.

A quantidade de cores de um pôr do sol é incontável (exceto por Chuck Norris, que troca os toners do sol a cada 15 dias, como se sabe). O pantone celeste, porém, é capturável em foto. Agora, segue o desafios aos colegas da Getty Image e concorrentes fotografar: a profundidade do conjunto de nuvens sobrepostas por relevos e sobrepondo o sol; a textura do céu em permanente ultraje; a curvatura do horizonte fortalecida pelo dégradé de luzes; as cores rosadas das nuvens refletidas na lateral oposta do carro a passar pela imagem; as cores rosadas das nuvens refletidas na asa direita do besourão a cruzar a imagem; o pernilongo fdp que entrou pela janela em busca de jantar, enquanto o fotógrafo apreciava tudo isso. No way!

Existe uma programação diária de apresentações únicas, mágicas e improvisadas a ser apreciada de camarote. E com o acessório da moda: a imagem em 3D. Sem óculos ridículos, aliás. Porque nascemos com a melhor lente já produzida. Que está apenas cansada demais. Ou míope. Ou desfocada.

Nenhum comentário: